Avanço do mar e erosão costeira preocupam moradores de diferentes cidades do Ceará

A Universidade Federal do Ceará monitorou por satélite os 573 quilômetros de litoral do Ceará. O resultado mostrou que 47% do tem algum tipo de erosão.

A imagem retrata um cenário preocupante de erosão costeira no Ceará. Uma porção significativa da rua litorânea desabou, revelando um grande buraco e a destruição da camada asfáltica. A lateral da via, que provavelmente era composta por areia e vegetação, também foi severamente erodida, com pedras e terra solta visíveis. No lado direito da imagem, parte da rua ainda está intacta e carros estão estacionados. Duas pessoas e dois cachorros caminham pela área não afetada. Ao fundo, observa-se uma área urbana com construções e a linha da praia.
Mar avança há anos na orla do Icaraí, em Caucaia — Foto: Fabiane de Paula/SVM

O outrora privilégio de morar à beira-mar tem se transformado em prejuízo para muitos moradores de cidades litorâneas do Ceará. O avanço do mar e a intensificação da erosão costeira representam uma ameaça constante aos seus patrimônios. Um exemplo marcante é a praia do Icaraí, em Caucaia, onde o professor Antônio Augusto Rocha Leite relata a drástica redução da faixa de areia e o desaparecimento de dunas e restaurantes.

A extensão do problema é evidenciada por um estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC), que monitorou via satélite os 573 quilômetros do litoral cearense. Os resultados apontam que alarmantes 47% dessa área sofrem algum tipo de erosão, com trechos onde a faixa de areia simplesmente desapareceu. A perda de sedimentos, como a areia, sem a devida reposição, caracteriza a erosão costeira, sendo o barramento de rios para a construção de açudes um dos fatores apontados para esse desequilíbrio no fluxo natural de areia para as praias.

Os rios desempenham um papel crucial no "abastecimento" de areia para as praias, transportando sedimentos do interior até o litoral. Quando esses rios são barrados, o fluxo de sedimentos é interrompido, acelerando os processos erosivos. As praias são ambientes dinâmicos, onde a areia é constantemente perdida e ganha pela ação dos ventos e do mar. O desequilíbrio nos mecanismos de reposição, como a obstrução do fluxo fluvial, intensifica a erosão.

A situação crítica não se restringe ao Icaraí. A mais de 220 quilômetros dali, na praia da Peroba, em Icapuí, a divisa com o Rio Grande do Norte enfrenta um cenário semelhante, com o mar avançando cerca de um metro e meio por ano. A frequência e a intensidade dos episódios de destruição causada pela força do mar têm aumentado na última década. Das 14 praias de Icapuí, pelo menos seis apresentam estágios avançados de erosão, forçando moradores e o poder público a implementarem obras emergenciais.

Os prejuízos são vastos, incluindo casas danificadas, pescadores impossibilitados de trabalhar, pousadas fechadas e cancelamentos de hospedagens. Dezenas de famílias foram forçadas a se mudar, e até mesmo uma escola foi demolida devido ao avanço do mar. Na Praia da Peroba, após uma batalha judicial, iniciou-se a construção de um espigão, uma estrutura que avança sobre a água para desviar o fluxo da maré e reter areia na costa. A esperança dos moradores, como o jornalista Luiz Viana, é que essa intervenção traga de volta a normalidade e a segurança para a região.

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